Especialistas estimam
ainda que investimento do governo federal no ciclo fundamental teria de
crescer 50% para a ampliação do modelo
Bianca Bibiano

Escola Municipal Profª Maria de Lourdes Von Zuben, Vinhedo (SP)
(Heitor Feitosa/VEJA.com)
A educação em tempo integral, modalidade em que o estudante fica ao
menos sete horas na escola, é uma das bandeiras dos candidatos à
Presidência na corrida eleitoral. O tema ganhou mais força na semana
passada quando Marina Silva (PSB), terceira colocada no primeiro turno,
apresentou uma lista de exigências
para declarar apoio a Aécio Neves (PSDB). A proposta estava lá.
Apresentada como estratégia central para o aprimoramento da educação
básica no país, a educação integral merece mais reflexão do que permitem
as respostas, réplicas e tréplicas dos debates de TV.
Para especialistas ouvidos por VEJA.com, a promessa de expansão da
jornada escolar não leva em conta o aumento de investimentos necessário
para que as escolas não se tornem meros depósitos de crianças em tempo
integral. Isso teria impacto nas contas da União e também de governos
locais. Hoje, o governo federal complementa o custeio da educação
repassando a Estados e municípios recursos do Fundo Nacional de
Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb), um bolo que este ano gira
em torno de 2,05 bilhões de reais.
"As escolas que oferecem período integral recebem, do Fundeb,
recursos entre 10% e 30% superiores às demais. Contudo, os valores
repassados só são suficientes porque a maior parte das atividades do
contraturno são realizadas em parceira com ONGs e voluntários, não com
professores", diz Marcelino de Rezende Pinto, professor da Universidade
de São Paulo (USP) e especialista em financiamento da educação. "Para
fazer a ampliação da jornada com qualidade, o repasse deveria ser 50%
maior."
O aumento de 50% nos repasses cobriria despesas com professores,
alimentação, compra de material, água e luz. A construção de novos
prédios, necessária para atender ao eventual aumento da demanda por
ensino integral, não entra no levantamento. "Ainda que o governo aumente
o repasse do Fundeb, a fonte continua sendo a mesma: os impostos. Para
cumprir as promessas, portanto, será preciso criar novas fontes de
recursos e convencer Estados e municípios a aumentar seus investimentos
próprios", afirma o pesquisador.
O economista Marcelo Neri, ministro-interino da Secretaria de
Assuntos Estratégicos da Presidência da República, aponta outra questão
sensível sobre a ampliação da escola em tempo integral: a qualidade.
Neri é autor de um dos principais estudos sobre ensino integral no
Brasil, no qual relaciona o tempo em que os estudantes ficam na escola e
as notas que eles obtêm no Sistema de Avaliação da Educação Básica
(Saeb), que reúne aferições sobre a qualidade do ensino público no país,
como a Prova Brasil.
Cruzando dados de questionários da Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílio (Pnad) de 2006 e do Saeb de 2005, ele constatou que mais tempo
na escola não é sinônimo de melhor aprendizado. Um exemplo: alunos do
ensino médio que tinham entre quatro e seis horas de aula por dia
obtiveram, em média, 34,67 pontos a mais no Saeb do que seus pares que
estudavam no máximo quatro horas (o conceito mais alto obtido no país
naquele ano foi 282,5). Contudo, aqueles que tinham mais de seis horas
de aula por dia obtiveram apenas 3,25 pontos adicionais em relação às
turmas de quatro horas. Ou seja, a melhoria é quase imperceptível quando
se expande o ensino para além de seis horas, como propõem os candidatos
— e também como prevê o Plano Nacional de Educação como objetivo para 2024.
"A expansão da jornada pode ser prejudicial quando não é pautada por
uma política pública que zele pela qualidade do ensino. Apenas aumentar o
tempo de aula sem previsão do que deverá ser ensinado pode prejudicar o
desempenho do estudante", diz Neri. "Além de mostrar que mais tempo na
escola não necessariamente significa melhor desempenho, a pesquisa
revelou que à medida que o estudante fica mais velho cresce sua
resistência ao ensino integral, e suas notas caem."
Segundo a proposta da candidata-presidente Dilma Rousseff (PT), 20% da rede pública de ensino deverá funcionar na modalidade integral até 2018. Atualmente, essa taxa é de 13,2% das matrículas, de acordo com Censo Escolar 2013. Para cumprir a meta, Dilma promete expandir o programa Mais Educação, tido pelo MEC como o principal responsável pelo crescimento de 45,2% das matrículas em tempo integral entre 2011 e 2013. O programa repassa verbas para 58.293 escolas de ensino fundamental estaduais e municipais, que oferecem cursos de artes, esportes e reforço escolar no contraturno. Quem dá os cursos, contudo, não são professores, mas sim monitores contratados em regime de voluntariado. Cada escola recebe entre 20.000 e 22.000 reais ao ano para pagar os custos da expansão da jornada, o que inclui alimentação, material, transporte e pagamento dos monitores.
Já a proposta de Aécio prevê a expansão do tempo integral de acordo
com as metas definidas pelo Plano Nacional de Educação. De acordo com o
projeto de governo do tucano, o tempo extra na escola seria usado para
"atividades de áreas mais técnicas e científicas, ou ciências sociais e
humanidades, ou ainda o aprendizado prático para as profissões em
parceria com o setor produtivo". Como governador de Minas Gerais
(2003-2010), Aécio criou um programa estadual de educação integral em
parceria com municípios. Em 2013, 10% dos alunos eram atendidos em
jornada ampliada.
Para a educadora Isabel Cristina Santana, superintendente da Fundação
Itaú Social, um dos desafios que o eleito(a) terá pela frente será
adequar a infraestrutura das escolas. "A proposta de deixar crianças o
dia inteiro na escola cai bem entre eleitores e famílias. Mas a maioria
das escolas brasileiras oferece aulas em três turnos de aula. Para
suprir a demanda por mais espaço, uma alternativa é utilizar espaços
comunitários como clubes, museus e bibliotecas. Essa dinâmica está dando
certo fora do Brasil e certamente reduziria os custos de implantação de
um programa em escala federal." (Veja)
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