A
professora de matemática do Centro de Ensino Fundamental da 316 Norte,
em Brasília, Avelina Pereira Neves não responde imediatamente à
pergunta: por que continua na profissão? Ela se emociona e diz que "ser
professor é ser movido por uma paixão, por um sonho de transformação".
Com
49 anos e 30 de profissão, Avelina pediu aposentadoria para o início do
ano que vem. As lágrimas, segundo ela, são menos por deixar a escola e
mais por avaliar o que o exercício do magistério lhe causou. A lista de
enfermidades inclui problemas gástricos, irritabilidade, problemas nas
articulações. "A gente se aposenta e não serve mais para nada. Quando
você gosta, cria muitos sonhos, não pensa na dificuldade, só pensa no
produto do seu trabalho. Quando acaba, está com a coluna ruim, braços,
tanta coisa, problemas psiquiátricos". Durante a carreira, a professora
passou dez anos afastada, exercendo outra função na escola, por questões
de saúde.
Ao fim da entrevista com Avelina, ela se junta aos
demais professores no pátio da escola. Lá, os estudantes prepararam uma
homenagem para eles em comemoração ao Dia do Professor. "Hoje, os
estudantes que se organizaram, que prepararam tudo". Ela lembra que
insistiu, em outras ocasiões, que o espaço fosse usado em atividades
para os alunos. "A gente fica nessa expectativa de que aprendam, de que
tenham uma vida melhor".
O caso de Avelina não é isolado. Uma
pesquisa feita em três estados - Espírito Santo, Rio Grande do Sul,
Santa Catarina - e no Distrito Federal (DF) mostra a Secretaria de
Educação como o órgão com maior percentual de servidores públicos
afastados por doenças no DF e em Santa Catarina. O Distrito Federal
lidera o índice - 58% dos profissionais foram afastados por motivo de
doença pelo menos uma vez no ano. Em Santa Catarina são 25%. No Rio
Grande do Sul, a educação aparece como a área com o terceiro maior
índice de afastamento entre as secretarias do estado, 30%.
A
pesquisa foi feita pelo Conselho Nacional de Secretários de Estado da
Administração (Consad) entre 2011 e 2012 e divulgada no ano passado.
Outra
pesquisa, citada em revista da Confederação Nacional dos Trabalhadores
da Educação (CNTE) de 2012 - Trabalho Docente na Educação Básica no
Brasil -, revela que as principais causas de afastamento de docentes são
processos inflamatórios das vias respiratórias (17,4%), depressão,
ansiedade, nervosismo, síndrome do pânico (14,3%) e estresse (11,7%).
Foram entrevistados 8,9 mil professores em Minas Gerais, no Espírito
Santo, em Goiás, no Paraná, em Santa Catarina, no Rio Grande do Norte e
Pará.
Saiba Mais
"Temos
uma categoria que sofre muito de estresse pelo número de alunos em sala
de aula, pelos salários baixos, pelas difíceis condições de trabalho",
diz o presidente da CNTE, Roberto Leão, acrescentando que o estresse
leva a outras doenças. Segundo ele, é difícil conseguir dados nacionais
confiáveis e, geralmente, as doenças não são tratadas nas causas.
Leão
cita o excesso de estudantes em sala de aula, a violência nas escolas,
a falta de tempo para planejar aulas e corrigir provas, o que faz com
que os profissionais ocupem o tempo livre e os finais de semana com
trabalho, como algumas das condições que levam às doenças. "Precisamos
que os profissionais estejam bem porque eles vão lidar com adolescentes,
jovens, que são o futuro do país", afirma.
Saúde no DF
De
acordo com o Consad, no Distrito Federal, líder no índice de
afastamento por doenças, os problemas são causados principalmente por
transtornos mentais e comportamentais, como depressão, ataques de
ansiedade, fobias e distúrbios do sono, de acordo com a Subsecretaria de
Segurança e Saúde no Trabalho da Secretaria de Estado de Gestão
Administrativa e Desburocratização.
O Sindicato dos Professores
no Distrito Federal (Sinpro-DF) estima que esses atestados representam
hoje 70% dos afastamentos. "Uma doença psíquica não é curada em uma
semana, às vezes leva tempo, precisa de remédios. Pode levar até meses,
anos para o professor se recuperar", diz a coordenadora da Secretaria de
Saúde do Trabalhador do Sinpro-DF, Maria José Correia. "A secretaria
não está preparada e nem sempre envia professor para substituir. Em
casos de atestados de 15 dias, de até um mês, os alunos ficam sem
professor", acrescenta.
A subsecretária de Segurança e Saúde no
Trabalho, Luciane Kozicz, que coordenou o estudo do Consad, diz que a
saúde do professor é preocupação do governo, que instituiu em junho
deste ano a Política Integrada de Atenção à Saúde do Servidor. Uma das
ações que serão desenvolvidas é, junto com o servidor, mapear as causas
das doenças e tentar desenvolver programas antes que o profissional saia
de licença.
O que diz a lei
No Plano
Nacional de Educação (PNE), sancionado no ano passado pela presidenta
Dilma Rousseff, estão as metas de garantir a formação continuada e
pós-graduação aos professores, equiparar o salário ao dos demais
profissionais com a mesma escolaridade e garantir plano de carreira. O
primeiro prazo termina no ano que vem, limite para a definição do plano
de carreira.
"O professor é uma peça-chave na educação do país e,
se quisermos dar prioridade à educação, precisamos valorizar o
professor em termos de salário, de condições de trabalho, além do
reconhecimento social da importância da profissão", diz a
coordenadora-geral do movimento Todos pela Educação, Alejandra Velasco.
Mariana Tokarnia - Repórter da Agência Brasil
Quinta, 15 de outubro de 2015 – Postado por Elismar Rodrigues
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1-Não julgueis, para que não sejais julgados. 2-Pois com o critério com que julgardes, sereis julgados; e com a medida que usardes para medir a outros, igualmente medirão a vós. …