Todos
os dias na longa, surpreendente e espetacular campanha presidencial que
se encerra no domingo 26 as diferenças entre PT e PSDB ficaram claras. A
base ideológica, a escola econômica e os compromissos de classe que
separam os dois partidos se afastaram mais do que nunca e, ainda assim, a
eleição vai ser decidida nos detalhes.
Nos próximos nove dias, a partir do
sábado 17, a presidente Dilma Rousseff e o senador Aécio Neves estarão
aproveitando os ventos finais de uma corrida em tudo parelha. O
bate-rebate foi o jogo escolhido na semana anterior à decisiva, e sem
dúvida será a tônica do que virá pela frente até o freio de 48 horas
para a reflexão do eleitor. Naquelas últimas horas, apontam as
pesquisas, estará sendo escolhido o vencedor final. Afinal, os
levantamentos sobre o modo de escolha dos brasileiros no primeiro turno
deste 2014 apontaram que 6% definiram na véspera em quem iriam votar –
e, importante, 9% se decidiram no próprio domingo, literalmente a
caminho e diante da urna. Como o pagamento de impostos: na última hora.
A cristalização da definição
eleitoral, por outro lado, se manifestou em muitos números das
principais pesquisas. À medida em que Aécio e Dilma consolidaram uma
situação de empate técnico, com 51% contra 49% pelo Datafolha da
quinta-feira 16, o número de indecisos se manteve estável. Um indicador
de que só haverá resultante na cabeça do contingente que decidirá a
eleição, sobre tudo o que se viu e ouviu, na undécima hora.
Pelos placares apertados de Ibope e
Datafolha, e considerando os resultados de primeiro turno, nesta eleição
polarizada é certo dizer que a decisão estará nas mãos dos últimos
indecisos.
No sangrento debate da quinta-feira
16, Aécio deixou o ringue com Dilma em situação de nocaute técnico.
Menos a ver com a queda glicêmica que a presidente apresentou – ela que,
nitidamente, expressava cansaço e lentidão de raciocínio diante do
traquejo parlamentar de vida inteira do senador -, e mais em razão de
perguntas que ele desferiu e que ficaram sem respostas dela. Exemplo:
Dilma já disse, mais de uma vez, que não governa pela mídia, em cima das
informações que são publicadas, especialmente denúncias de corrupção.
- Não vou dar à imprensa o poder que ela não tem, definiu-se Dilma sobre a relação.
Mas no debate nos estúdios do SBT, a
presidente simplesmente ficou calada quando Aécio a questionou sobre
falta de providências administrativas contra acusados de corrupção na
delação premiada de Paulo Roberto Costa e Alberto Yousseff. Ela tem a
resposta que acha a mais adequada, mas não a concedeu ali. Foi um
detalhe que a presidente, nas condições daquele encontro, deixou passar.
Porém, também por detalhes muitos
eleitores – ou, precisamente, muitas mulheres eleitoras também se
sentiram atingidas pelo tom inquisitório que Aécio usou contra a
presidente, chamada várias vezes de ‘mentirosa’. Levantamentos dos dois
partidos detectaram que o excesso de ênfase pode ter levado Aécio a
ultrapassar o ponto máximo e passado, então, a perder pontos. Ele teria
sido visto como grosseiro contra a figura da presidente.
Na sexta-feira 17, ao lado de Marina Silva, o próprio Aécio resolveu corrigir sua rota:
- Eu lamento profundamente o tom do debate, eu quero propor ideias, amenizou.
A considerar que o tucano venceu o
segundo debate, pode-se avaliar que a presidente se saiu melhor no
primeiro encontro, realizado pela Rede Bandeirantes.
Na sexta-feira 24, Dilma e Aécio tem
encontro marcado nos estúdios da Record e da Rede Globo. Este será o
último confronto. Não houve consenso sobre a participação de jornalistas
da emissora com a realização de perguntas – e só haverá trocas de
palavras entre os contendores. Um detalhe, e toda a campanha poderá se
definir.
Já neste domingo 19, a pauta para o
correr da última semana da campanha será dada pelo debate organizado
pela Rede Record. As interrogações já estão no ar: Dilma irá se
recuperar, Aécio se manterá no ataque, haverá rancor ou protocolo no
enfrentamento?
Na estratégia de rua de PT e de
PSDB, também a luta está igual. Pode-se gostar ou não, mas as regiões
Norte e Nordeste vão se mostrando como redutos do PT e de Dilma,
enquanto o Sudeste e o Sul dão mais densidade à Aécio. Dentro desses
grandes campos regionais, as campanhas se movimentam intensamente nos
chamados Estados mais populosos.
Dilma ficou com os dois candidatos a
governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão e Marcelo Crivella,
como que trabalhando para ela no terceiro eleitorado do País. Nenhum
deles admitiu apoio a Aécio. Em compensação, o tucano ficou com o apoio
da família de Eduardo Campos, em Pernambuco, que teve peso para virar a
eleição para governador no Estado. No Rio Grande do Sul, a virada de
José Ivo Sartori, do PMDB, de força para Aécio, mas o governador Tarso
Genro não desistirá da luta antes do final, em benefício de Dilma.
São Paulo e Minas Gerais, mais uma
vez, são estratégicos. O PT centrou boa parte de sua campanha de segundo
turno na informação de que Aécio perdeu as eleições em seu Estado
natal. E terá de manter ou ampliar a diferença para fazer Dilma
reeleita.
Em São Paulo, o PT colheu sua
principal surpresa negativa no primeiro turno. Dilma perdeu para Aécio
por uma diferença de 3,5 milhões de votos. O partido tratou de reforçar o
chamamento à militância para evitar que uma nova derrota por grande
diferença se repita.
Por mais que tenha recolhido apoios
entre partidos e políticos, como o PSC, o PV, o PSB e a família Campos,
Aécio não abriu a frente confortável que gostaria sobre Dilma. Ele
lidera os levantamentos de institutos como o Paraná e o Census, mas o
empate técnico apurado pelos maiores Datafolha e Ibope é o dado mais
aceitável pelas campanhas.
Depois de um momento de dúvida, o
PSDB resolveu apostar em Marina como grande aliada. No seguinte ao
debate do SBT, Aécio apareceu ao lado da ex-candidata do PSB, que estava
esfuziante e de muito bom humor. Ela pregará por Aécio, numa tentativa
de reunir a grande maioria de sua herança de votos na conta dele. O
desgarramento de boa parte do rebanho dela é apontado como fator
decisivo para o quadro de empate técnico.
A esta altura, com todas as atenções
voltadas para a presidente e o senador, qualquer fato novo poderá ser
decisivo. Pelo histórico da campanha, repleta de surpresas e marcada
pelo inusitado, e os longos dias pela frente até o domingo 26, tudo
ainda está por acontecer. (Marco Damiani, 247)


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Mateus 7
1-Não julgueis, para que não sejais julgados. 2-Pois com o critério com que julgardes, sereis julgados; e com a medida que usardes para medir a outros, igualmente medirão a vós. …