O presidente da Câmara fala com jornalistas após ter sido acusado por delator da Lava Jato
Atribuindo ao Palácio do Planalto uma articulação para envolvê-lo na Lava Jato, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse que anunciará nesta sexta (17) o seu rompimento com o governo. A decisão ocorre após ele ser acusado pelo lobista Julio Camargo de receber US$ 5 milhões de propina.
"É tudo vingança do governo. Parece que o Executivo quer jogar a sua crise no Congresso", disse Cunha à Folha.
Após a divulgação da notícia, ele conversou com o vice-presidente e articulador político do governo, Michel Temer (PMDB-SP), e com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Renan disse que o país vive uma crise institucional. Cunha comunicou que iria defender o rompimento com o governo.
Em nota logo depois que a denúncia veio à tona, ele chamou o lobista de "mentiroso" : "Desminto com veemência as mentiras do delator e o desafio a prová-las", afirmou.
"É muito estranho, às vésperas da eleição do procurador-geral da República [Rodrigo Janot tenta a recondução] e às vésperas de pronunciamento meu em rede nacional [ele fará um balanço legislativo nesta sexta], que as ameaças ao delator tenham conseguido o efeito desejado pelo procurador, ou seja, obrigar o delator a mentir."
Cunha chegou à presidência da Câmara em fevereiro, derrotando o governo. Desde então, vive uma relação tensa com o Planalto e repete que as suspeitas levantadas contra ele são fruto de perseguição patrocinada por Janot, com estímulo do governo.
Desde o começo da semana, diz a aliados que aguarda uma denúncia da Procuradoria contra ele por conta das investigações da Lava Jato.
Cunha já sabia que Camargo, que até então o mantivera fora do rol de acusados, resolvera fazer acusações contra ele em seus depoimentos.
O peemedebista atribui a mudança a uma pressão exercida pelos investigadores, a mando do Planalto. A Lava Jato investiga políticos de vários partidos, incluindo o PT.
Para peemedebistas, haverá agora uma tentativa do governo Dilma de envolver Temer no escândalo para inviabilizar uma eventual sucessão da presidente pelo vice em caso de impeachment.
RETALIAÇÕES
Segundo a Folha apurou, Cunha chegou a dizer que ele pode se "ferrar", mas o governo vai junto. "Guerra é guerra", ameaça, nos bastidores.
Sua retaliação deve começar com a instalação de CPIs incômodas ao governo, como a do BNDES e a dos fundos de pensão.
O ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, também será convocado para depor na CPI da Petrobras. O objetivo é desgastar a presidente.
O peemedebista não descarta dar prosseguimento a um processo de impeachment contra Dilma no segundo semestre, após as manifestações de rua marcadas para o dia 16 de agosto.
Para o governo, as revelações contra Cunha vão enfraquecer seu ímpeto revanchista na Câmara. Desde o começo do ano ele tem imposto seguidas derrotas ao Palácio do Planalto.
Em entrevista coletiva na Câmara, o peemedebista disse que não se deixará ser "constrangido" e "fragilizado" pelo depoimento do delator, e afirmou que não irá alterar ou cancelar o pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão que fará na noite desta sexta.
"Não vou fazer isso [cancelar] porque eu estou me pronunciando como presidente da Câmara sobre atividades da Câmara. Não estou me pronunciando para fazer alusão ou defesa de fatos pessoais."
Questionado se teria vontade de fazer uma acareação com Júlio Camargo para falar "olho no olho", Cunha afirmou que fala "com quem quer que for".
"Eu não tenho dificuldade nenhuma de rebater quem quer que seja. Ele está mentindo e o delator tem que provar sua mentira. O ônus da prova é de quem acusa."
Pedro Ladeira/Folhapress
Sexta, 17 de julho de 2015 – Postado por Elismar Rodrigues – www.ouricuriemfoco.com.br
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